quarta-feira, 11 de abril de 2012

De Elefante na Ponta à Miss Anorexia

 Ingressei na escola de ballet aos 04 anos de idade sem a menor vocação para ser bailarina. No entanto, após receber o diagnóstico de retração muscular (o músculo não conseguia acompanhar o crescimento ósseo), minha mãe com a melhor intenção do mundo, por orientação médica, pelo fato das minhas primas fazerem ballet...ela acabou me matriculando na escola de ballet...

Todavia, esqueceram de avisar a minha mãe que o ballet não é o mesmo que Fisioterapia. Mero detalhe....

No começo o ballet é muito fofo, principalmente para os pais. Assistir a filha no espetáculo no final do ano se apresentando fantasiada com babadinhos, coque, batom, é orgulho para qualquer pai e mãe, pois logo após surgirá aquele pensamento melancólico: "Ah... Que linda! Minha filha está ficando uma mocinha" . Mal sabem eles que você ouviu milhares de berros e gritos da sua professora de ballet durante 04 meses de ensaio duas vezes na semana para decorar aquela coreografia de seis minutos. Porém, o ballet se torna um pesadelo quando você deixa de ser criança e se torna adolescente. Principalmente se você, como no meu caso for gorda e continuar com problemas de flexibilidade. A professora parecia gostar de ver meu sofrimento. O tanto que me desdobrava para realizar os exercícios impostos com a perfeição exigida. Mas como poderia ser perfeito com tanta gordura me atrapalhando e sem flexibilidade devido a retração muscular? Era humilhante ver minhas colegas fazendo os exercícios da forma que ela queria, menos eu.

Nas apresentações de final de ano lá estava eu, atrás, bem atrás. O que era algo para ser fofinho se tornou ridículo. Se alguém perguntasse: "Onde está a Karen"? A resposta era fácil. Veja aquela coisa saltitante, bem grande, fora do contexto. Lá está ela.

Quando cheguei na sapatilha de ponta nem acreditei. Toda bailarina, seja ela magra ou gorda, sabe que esta sapatilha acaba com os pés. Dói muito. Principalmente para quem é acima do peso. Era o que acontecia comigo. Meus pés criaram calos, bolhas, caíram unhas. Toda aula era mais que um sofrimento. Era um calvário de dor nos pés... Eu me esforçava o quanto podia. Após um ensaio exaustivo, ouvi um professor dizendo em tom de brincadeira que algumas bailarinas estavam muito gordas e pareciam elefantes na ponta. Este comentário para mim foi o fim. O fim do ballet, já que desisti desta apresentação e não retornei.

Os anos se passaram e de repente resolvi que não seria mais gorda. Comecei a fazer dieta por conta própria e atividade física de domingo a domingo. Adotei uma alimentação completamente radical e me tornei vegetariana. Consegui emagrecer 30 kgs. As pessoas que me conheciam ficaram assustudas com minha magreza excessiva. No clube, chegaram a perguntar para minha mãe se eu estava com Aids. Mas na verdade estava com anorexia nervosa.

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