quarta-feira, 25 de abril de 2012

Transtornos de Personalidade X Alteração da Personalidade




Quando os traços são definitivos, inflexíveis e inadaptados podem constituir um Transtorno de Personalidade.

Pessoas explosivas, teatrais, sistemáticas, meticulosas, obsessivas, cismadas, muito emotivas e outros tipos difíceis de conviver sugerem, intuitivamente para todos nós, tratar-se de uma maneira de SER assim e não de ESTAR assim. Ao longo da vida essas pessoas podem melhorar, através de muito empenho e vontade de morrer melhor do que nasceram. Outras estacionam, petrificadas para sempre, sofrendo e fazendo sofrer.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) trata do assunto sob o titulo de Transtornos da Personalidade e de Comportamento, especificando-os nos códigos F60 até F69 na CID-10. A OMS descreve tais transtornos da seguinte maneira:

“Estes tipos de condição abrangem padrões de comportamento permanentes e profundamente arraigados no ser que se manifestam como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e sociais. Elas representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura, percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros”.
Os Transtornos de Personalidade, ainda segundo a CID-10, são condições do desenvolvimento da personalidade que aparecem na infância ou adolescência e continuam pela vida adulta. Esta condição constitucional e biológica de desenvolvimento diferencia o Transtorno da Alteração da Personalidade. A Alteração da Personalidade ocorre durante a vida em conseqüência de algum outro transtorno emocional, dependência química, traumatismo craniano, tumores, infecções cerebrais, etc.
Enfatizando, os Transtornos de Personalidades são perturbações graves da constituição do caráter e das tendências comportamentais, portanto, não são adquiridas no meio tal como as Alterações da Personalidade. A CID-10 apresenta entre os títulos F60 e F69 uma grande variedade de subtipos de Transtornos de Personalidade. Procuraremos aqui compatibilizá-los todos com outras classificações de forma a abordar os tipos sinônimos com a mesma descrição.

A Associação Norteamericana de Psiquiatria, através de seus critérios de classificação e diagnóstico de transtornos mentais, o DSM.IV , fala sobre os Transtornos da Personalidade da seguinte forma:

"Um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo."
E qual seria a diferença entre o Transtorno da Personalidade e a Doença Mental franca? As doenças mentais ocorrem e se desenvolvem a partir de um momento definido da vida, tal como são as crises, reações, processos, episódios e surtos, enquanto os Transtornos da Personalidade, por sua vez, são maneiras problemáticas de ser, constantes e perenes. As doenças mentais surgem e os Transtornos da Personalidade são.

Os Transtornos de Personalidade afetam todas as áreas da personalidade, o modo como o indivíduo vê o mundo, a maneira como expressa as emoções, o comportamento social. Caracteriza um estilo pessoal de vida mal adaptado, inflexível e prejudicial a si próprio e/ou aos que com ele convivem. Essas características, no entanto, apesar de necessárias não são suficientes para identificação dos Transtornos de Personalidade, pelo fato de serem muito vagas. A maneira mais clara como a classificação deste problema vem sendo tratada é através da subdivisão em tipos de transtornos de personalidade, com critérios de diagnóstico próprios e bem definidos, tanto pela CID.10, quanto pelo DSM.IV.


Convencionalmente os transtornos da personalidade foram divididos em três grupos:

1º. Grupo – Aqui estão as pessoas caracterizadas essencialmente por pensamentos estranhos, comportamentos excêntricos e mórbida tendência ao isolamento. Estão classificadas aqui as personalidades paranóides e esquizóides, as primeiras possuidoras de rígido padrão de suspeitas e desconfianças infundadas, as segundas são emocionalmente distantes e com dificuldade em estabelecer relações sociais.

2º Grupo – Os transtornos deste grupo têm em comum um comportamento com tendência à dramaticidade, apelação e emoções que se expressam intensamente. Os indivíduos histriônicos representam esse grupo, sendo muito excitáveis, demonstrativos, justificativos e egocêntricos. Também está aqui a chamada Personalidade Anti-Social, que manifesta expressiva incapacidade geral de adaptação aos padrões sociais estabelecidos e para relações afetivas estáveis.
3º. Grupo – Estão neste grupo as personalidades com marcantes traços de dificuldade no controle dos impulsos; transtorno explosivo ou impulsivo da personalidade, transtorno ansioso ou evitativo da personalidade, transtorno anancástico ou obsessivo-compulsivo da personalidade.


TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTI-SOCIAL

Caracteriza-se pelo comportamento irresponsável, explorador e insensível constatado pela ausência de remorsos. Essas pessoas não se ajustam às leis do Estado simplesmente por não quererem, riem-se delas, frequentemente têm problemas legais e criminais por isso. Mesmo assim não se ajustam. Frequentemente manipulam os outros em proveito próprio, dificilmente mantêm um emprego ou um casamento por muito tempo. 


Aspectos essenciais:

ü Insensibilidade aos sentimentos alheios

üAtitude aberta de desrespeito por normas, regras e obrigações sociais de forma persistente.

üEstabelece relacionamentos com facilidade, principalmente quando é do seu interesse, mas dificilmente é capaz de mantê-los.

üBaixa tolerância à frustração e facilmente explode em atitudes agressivas e violentas.

ü Incapacidade de assumir a culpa do que fez de errado, ou de aprender com as punições.

üTendência a culpar os outros ou defender-se com raciocínios lógicos, porém improváveis.


TRANSTORNO PARANÓIDE DE PERSONALIDADE

Caracteriza-se pela tendência à desconfiança de estar sendo explorado, passado para trás ou traído, mesmo que não haja motivos razoáveis para pensar assim. A expressividade afetiva é restrita e modulada, sendo considerado por muitos como um indivíduo frio. A hostilidade, irritabilidade e ansiedade são sentimentos frequentes entre os paranóide. O paranóide dificilmente ri de si mesmo ou de seus defeitos, ao contrário ofende-se intensamente, geralmente por toda a vida quando alguém lhe aponta algum defeito.

   

Aspectos essenciais:


 ü Excessiva sensibilidade em ser desprezado.

 üTendência a guardar rancores recusando-se a perdoar insultos, injúrias ou injustiças cometidas.

 üInterpretações errôneas de atitudes neutras ou amistosas de outras pessoas, tendo respostas hostis ou desdenhosas. Tendência a distorcer e interpretar maleficamente os atos dos outros.

 üCombativo e obstinado senso de direitos pessoais em desproporção à situação real.

 ü Repetidas suspeitas injustificadas relativas à fidelidade do parceiro conjugal.

 üTendência a se autovalorizar excessivamente.

 üPreocupações com fofocas, intrigas e conspirações infundadas a partir dos acontecimentos circundantes.

 

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE DEPENDENTE  

Caracterizam-se pelo excessivo grau de dependência e confiança nos outros. Estas pessoas precisam de outras para se apoiar emocionalmente e sentirem-se seguras. Permitem que os outros tomem decisões importantes a respeito de si mesmas. Sentem-se desamparadas quando sozinhas. Resignam-se e submetem-se com facilidade, chegando mesmo a tolerar maus tratos pelos outros. Quando postas em situação de comando e decisão essas pessoas não obtêm bons resultados, não superam seus limites.

   

Aspectos essenciais:

 üÉ incapaz de tomar decisões do dia-a-dia sem uma excessiva quantidade de conselhos ou reafirmações de outras pessoas.

 üPermite que outras pessoas decidam aspectos importantes de sua vida como onde morar, que profissão exercer.

 ü Submete suas próprias necessidades aos outros.

 ü Evita fazer exigências ainda que em seu direito.

 üSente-se desamparado quando sozinho, por medos infundados.

 üMedo de ser abandonado por quem possui relacionamento íntimo.

 ü Facilmente é ferido por crítica ou desaprovação.

     
    TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ESQUIZÓIDE  

 Primariamente pela dificuldade de formar relações pessoais ou de expressar as emoções. A indiferença é o aspecto básico, assim como o isolamento e o distanciamento social. A fraca expressividade emocional significa que estas pessoas não se perturbam com elogios ou críticas. Aquilo que na maioria das vezes desperta prazer nas pessoas, não diz nada a estas pessoas, como o sucesso no trabalho, no estudo ou uma conquista afetiva (namoro). Esses casos não devem ser confundidos com distimia. 


Aspectos essenciais:

üPoucas ou nenhuma atividade produzem prazer.

 ü Frieza emocional, afetividade distante.

 üCapacidade limitada de expressar sentimentos calorosos, ternos ou de raiva para como os outros.

 üIndiferença a elogios ou críticas.

 ü Pouco interesse em ter relações sexuais.

 ü Preferência quase invariável por atividades solitárias.

 üTendência a voltar para sua vida introspectiva e fantasias pessoais.

 ü Falta de amigos íntimos e do interesse de fazer tais amizades.

 ü Insensibilidade a normas sociais predominantes como uma atitude respeitosa para com idosos ou àqueles que perderam uma pessoa querida recentemente.

  
 TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANSIOSA (evitação)

 Caracteriza-se pelo padrão de comportamento inibido e ansioso com auto-estima baixa. É um sujeito hipersensível a críticas e rejeições, apreensivo e desconfiado, com dificuldades sociais. É tímido e sente-se desconfortável em ambientes sociais. Tem medos infundados de agir tolamente perante os outros.    


Aspectos essenciais:


 ü É facilmente ferido por críticas e desaprovações.

 ü Não costuma ter amigos íntimos além dos parentes mais próximos.

 ü Só aceita um relacionamento quando tem certeza de que é querido.

 ü Evita atividades sociais ou profissionais onde o contato com outras pessoas seja intenso, mesmo que venha a ter benefícios com isso.

 ü Experimenta sentimentos de tensão e apreensão enquanto estiver exposto socialmente.

 üExagera nas dificuldades, nos perigos envolvidos em atividades comuns, porém fora de sua rotina. Por exemplo, cancela encontros sociais porque acha que antes de chegar lá já estará muito cansado.


  TRANSTORNO DE PERSONALIDADE HISTRÔNICA

 Caracteriza-se pela tendência a ser dramático, buscar as atenções para si mesmo, ser um eterno "carente afetivo", comportamento sedutor e manipulador, exibicionista, fútil, exigente e lábil (que muda facilmente de atitude e de emoções).       


Aspectos essenciais:

 ü Busca frequentemente elogios, aprovações e reafirmações dos outros em relação ao que faz ou pensa.


 ü Comportamento e aparência sedutores sexualmente, de forma inadequada.

 ü Abertamente preocupada com a aparência e atratividade físicas.

 ü Expressa as emoções com exagero inadequado, como ardor excessivo no trato com desconhecidos, acessos de raiva incontrolável, choro convulsivo em situações de pouco importância.

 ü Sente-se desconfortável nas situações onde não é o centro das atenções.

 ü Suas emoções apesar de intensamente expressadas são superficiais e mudam facilmente.

 ü É imediatista, tem baixa tolerância a adiamentos e atrasos.

 ü Estilo de conversa superficial e vago, tendo dificuldades de detalhar o que pensa.

   
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE OBSESSIVA (anancástica)

Tendência ao perfeccionismo, comportamento rigoroso e disciplinado consigo e exigente com os outros. Emocionalmente frio. É uma pessoa formal, intelectualizada, detalhista. Essas pessoas tendem a ser devotadas ao trabalho em detrimento da família e amigos, com quem costuma ser reservado, dominador e inflexível. Dificilmente está satisfeito com seu próprio desempenho, achando que deve melhorar sempre mais. Seu perfeccionismo o faz uma pessoa indecisa e cheia de dúvidas.


Aspectos essenciais: 


 ü O perfeccionismo pode atrapalhar no cumprimento das tarefas, porque muitas vezes detém-se nos detalhes enquanto atrasa o essencial.


 ü Insistência em que as pessoas façam as coisas a seu modo ou querer fazer tudo por achar que os outros farão errado.


 ü Excessiva devoção ao trabalho em detrimento das atividades de lazer.


 ü Expressividade afetiva fria.


 ü Comportamento rígido (não se acomoda ao comportamento dos outros) e insistência irracional (teimosia).


 ü Excessivo apego a normas sociais em ocasiões de formalidade.


 ü Relutância em desfazer-se de objetos por achar que serão úteis algum dia (mesmo sem valor sentimental)


 ü Indecisão prejudicando seu próprio trabalho ou estudo.


 ü Excessivamente consciencioso e escrupuloso em relação às normas sociais.





TRANSTORNO EXPLOSIVO DE PERSONALIDADE

Na CID-10 o Transtorno Explosivo da Personalidade aparece como Transtorno de Personalidade Emocionalmente Instável e no DSM.IV como Transtorno Explosivo Intermitente. Alguns autores preferem denominar esse tipo de personalidade como Síndrome de Descontrole Episódico. Aqui, a característica marcante é a tendência para agir impulsivamente e desprezando as eventuais conseqüências do ato impulsivo, junto com esse tipo de comportamento existe instabilidade afetiva. É um transtorno que se caracteriza por episódios de completo fracasso em resistir a impulsos agressivos, resultando em agressões ou destruição de propriedades.
Os freqüentes acessos de raiva podem levar à violência ou a explosões comportamentais e tais crises podem ser agravadas quando essas atitudes impulsivas são criticadas ou impedidas pelos outros. A agressão neste transtorno de personalidade pode ser física ou verbal, mas elas sempre fogem ao controle. Por outro lado tais pessoas não têm conduta anti-social e, pelo contrário, fora das crises são simpáticas, bem falantes, sociáveis e educadas. São constantes também o extremo sarcasmo, a ironia, explosões verbais e, algumas vezes, implicância e persistente amargura.

A extrema sensibilidade aos aborrecimentos causados pelos pequenos estímulos ambientais produz, nos explosivos, respostas de súbita violência e incontida agressividade. Normalmente chamamos estas pessoas de pavio-curto ou de cinco-minutos. Estes episódios de explosividade geralmente são seguidos de arrependimentos ou auto-reprovação, os quais são capazes de produzir variados graus de depressão, como uma espécie de ressaca moral pelos procedimentos cometidos.

O grau de agressividade manifestada pelas pessoas com transtorno explosivo da personalidade durante os episódios agudos é amplamente desproporcional ao estímulo desencadeante. Tais crises normalmente acarretam atos violentos ou destruição de propriedades. A agressão neste tipo de transtorno de personalidade pode ser física ou verbal, porém, as explosões sempre fogem ao controle.

Quando há envolvimento policial durante uma crise de agressividade na embriagues patológica, a pessoa agressiva corre sério risco de sofrer severas conseqüências por não conseguir controlar suas atitudes.



Quadro 1 - Os cinco principais transtornos do controle dos impulsos

Transtorno
 Explosivo Intermitente
Episódios de fracasso em controlar impulsos agressivos, resultando em agressões ou destruição de propriedades.

Cleptomania
Fracassos recorrentes em resistir a impulsos de furtar objetos desnecessários para uso pessoal ou destituídos de valor monetário.

Piromania
Fracasso em controlar o impulso incendiário, cujo comportamento de faz por prazer, gratificação ou alívio de ansiedade.

Jogo Patológico
Incapacidade persistente e recorrente em resistir ao impulso para jogos de azar e apostas.

Tricotilomania
Impossibilidade em controlar o impulso de arrancar os pelos do próprio corpo, ocasionando falhas perceptíveis.


Esse transtorno costuma ter sérias conseqüências sociais e familiares, tais como a perda do emprego, suspensão escolar, divórcio, dificuldades com relacionamentos interpessoais, acidentes variados e em especial os de trânsito, hospitalizações e envolvimentos policiais. Nos casos mais característicos pode haver alterações eletroencefalográficas inespecíficas, como por exemplo, lentificação da atividade difusa ou, predominantemente no lobo frontal.
DSM-IV cita como possibilidade para uma das causas (ou apenas concomitância) ao transtorno explosivo da personalidade, certas condições neurológicas, como por exemplo, traumatismos cranianos e episódios de inconsciência ou convulsões febris na infância. Imagens funcionais obtidas por PET (tomografia por emissão de pósitrons) têm sido usadas para investigar possíveis alterações na função do cérebro das pessoas portadoras de distúrbios caracterizados por excessiva violência e agressividade.

Algumas pesquisas nessa área têm mostrado porcentagem alta de um nível diminuído do funcionamento cerebral no córtex pré-frontal em pessoas violentas em relação às pessoas normais. Isso pode ser um indício de algum déficit neurológico relacionado à violência. O dano funcional no córtex pré-frontal pode resultar em impulsividade, perda do autocontrole, imaturidade, emotividade alterada e incapacidade para modificar o comportamento, o que pode facilitar os atos agressivos.

Para o diagnóstico do transtorno explosivo da personalidade é necessário que o tipo de comportamento explosivo, irritável e pouca consideração para com as conseqüências do ato agressivo seja bastante duradouro, que se manifeste em vários contextos vivenciais e, eventualmente, piora muito com o uso de álcool.


FONTE: www.psiqueweb.med.br



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